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Os motivos são os mais variados e não atingem só os adultos. As crianças e adolescentes costumam ficar sobrecarregados por causa das provas escolares, notas, recuperações e vestibular. "Já os adultos em geral estão sobrecarregados com o trabalho, afinal é bem sabido que para gozarmos de alguns poucos dias de férias costuma ser necessário trabalhar dobrado antes", explica Erika.
E a loucura de dezembro só vai aumentando: lista de presentes, preparativos para festas, viagem em família, lojas com muita gente, compras desenfreadas, confraternizações e encontros obrigatórios e muitas vezes indesejados. "Adoramos a festa, a comemoração, esperamos ansiosamente pelo final do ano. Mas, quando ele chega, a maioria das pessoas não vê a hora que acabe para voltar à velha e segura rotina", diz ela.
Segundo Erika, pessoas que sofrem de depressão tendem a ter recaídas nesta época. Isso ocorre porque, com as emoções à flor da pele, muitos se entristecem pela lembrança dos que já partiram, e apegam-se às perdas e frustrações: "O Natal já não é como antes", "Este é o primeiro Natal sem minha avó" ou "Mais um ano e eu continuo na mesma".
"Para piorar existe certa cobrança, uma obrigação moral, de viajar para um lugar superlegal, de passar o Natal com a família embaixo de uma árvore repleta de presentes, de mesa farta e, acima de tudo, de estar plenamente feliz. No entanto, essa expectativa é irreal, o que causa frustração", exemplifica a psicóloga.
E as famosas listinhas de "resoluções para o Ano Novo"? Elas são bem comuns nesta época, mas geralmente são decisões com um grau de dificuldade elevado e que requerem um empenho grandioso para que sejam atendidas. A psicóloga cita alguns exemplos: promete-se parar de fumar, emagrecer, parar de brigar com filhos e maridos, tratar bem a sogra, conquistar uma promoção no trabalho, fazer um curso que sempre quis, comprar uma casa ou carro, enfim, são conquistas grandiosas. "Porém, devido às próprias dificuldades implícitas nesses objetivos, a maioria deles é abandonada no meio do caminho", diz Erika. Além disso, com o passar dos meses, a vida vai modificando-se de maneira inesperada. Uma doença, um acidente, uma mudança de emprego ou de cidade, a falta de tempo ou simplesmente uma mudança de perspectivas ou de valores, tudo isso acaba por modificar os planos e direcionar a motivação daquela pessoa para outras conquistas. "Se você conseguiu uma promoção no trabalho, talvez aquele curso que planejou no final do ano não seja mais tão importante. Se planejou uma viagem para o próximo verão, talvez o roteiro tenha que ser alterado se você engravidar, sem planejar, no começo do ano", diz Erika.
Deixar de cumprir tais promessas nem sempre é sinal de falta de vontade ou empenho, nem deve ser encarado de maneira pessimista. Refletir, traçar novas metas, tomar uma "injeção de ânimo" é, sim, muito importante, uma vez que direciona nossa motivação, mas não se deve tornar uma tortura.
De acordo com a psicóloga, o final do ano é a época em que o consultório fica mais cheio. Algumas pessoas buscam a terapia correndo atrás do prejuízo, por exemplo, se o filho repetiu de ano e a mãe não sabe o que fazer, mas a maioria busca terapia porque chega ao final do ano com a sensação de que não fez nada, de que o ano não valeu a pena, de que muita coisa ficou para trás, e tudo isso porque não atingiu os objetivos esperados. "Essas pessoas sentem-se mal, diminuídas, desanimadas, e culpam-se por não estarem tão felizes quanto gostariam. Começam a rever, então, não apenas objetivos, mas posturas, comportamentos e valores, com o intuito de que o próximo ano seja diferente", diz ela.