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A chegada dessas drogas às escolas é motivo de preocupação, tendo em vista a facilidade do acesso e a curiosidade dos jovens em experimentar o "novo"?
Sim, especialmente porque o surgimento de um ou mais usuários aumenta a chance de que outros adolescentes se tornem também usuários, em função da aprendizagem social ou até mesmo devido a algum tipo de pressão social. Muitas vezes os jovens utilizam as substâncias para se inserir em um determinado grupo, mas depois têm dificuldade de sair. Em função disso, o uso de drogas raramente se dá de forma isolada, ao menos no início, até porque um indivíduo curioso, mas isolado, dificilmente terá os conhecimentos mínimos necessários para usar a droga: como obter, quanto pagar, como verificar a qualidade da droga, como administrá-la, quais os efeitos normais, como evitar problemas com o uso, etc. Para saber o que fazer, o usuário depende de um grupo, que, além de tudo, estimula o uso e o aceita. Por isso, a formação de grupos de usuários em escolas é tão preocupante.
Por que drogas como a maconha e a cocaína são consideradas sociais?
Isso ocorre porque são as drogas ilícitas mais consumidas em situações sociais e mais disponíveis pelo comércio ilegal de drogas, portanto de mais fácil aquisição. Durante a década de 70, os efeitos dessas drogas foram "glamorizados", mas atualmente isso está mais direcionado à maconha, devido aos inúmeros danos já comprovados associados com o uso de cocaína e crack. Contudo, tanto o uso de maconha como o de cocaína vêm aumentando em alguns países, como no Brasil na última década, segundo estatísticas nacionais e internacionais.
Qual é o grau de dependência dessas drogas sociais? Elas podem ser comparáveis a outras lícitas ou ilícitas?
O grau de desenvolvimento de dependência de drogas varia conforme o tipo de droga, a predisposição genética do indivíduo e conforme o seu modo de uso e, sim, são comparáveis a outras drogas lícitas ou ilícitas. Aproximadamente, um em cada 10 usuários de maconha se torna dependente e esse risco é comparável ao de álcool (15%) e outras drogas como cocaína (10-20%). Já a forma fumada de cocaína, o crack, apresenta risco de dependência de 25 a 30%, comparável ao de tabaco (32%) e heroína (23%).
Por fim, gostaria que falasse um pouco das drogas sintéticas. Qual é a grande preocupação médica em relação a esse tipo de consumo?
O consumo de drogas sintéticas como anfetaminas e metanfetaminas, incluindo o ecstasy, vem aumentando no Brasil, enquanto há diminuição do consumo em outros países. São drogas de uso muitas vezes recreacional, associadas a padrões de comportamento tolerados pela sociedade e estimulados na mídia. O ecstasy está bastante presente em festas rave, e especialmente os estimulantes são consumidos no intuito de se atingir o padrão estético de beleza magra. A combinação de álcool, estimulantes e dietas restritivas pode ocasionar graves problemas ao organismo, aumentando o risco de intoxicação grave. Além disso, os transtornos psiquiátricos e problemas clínicos desencadeados pelo abuso dessas drogas não são incomuns e podem ser muito graves, como a própria dependência, transtornos psicóticos, desidratação, hipertermia, convulsões, entre outros.
Dr. Felix Henrique Paim Kessler é médico psiquiatra, PhD em psiquiatria pela UFRGS, vice-diretor do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da UFRGS, chefe da Unidade de Psiquiatria de Adição do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e membro da Câmara Técnica de Psiquiatria do CREMERS, CRM 21753.
Dr. Thiago Gatti Pianca é psiquiatra, especialista em Psiquiatria da Infância e Adolescência pela UFRGS, doutorando em Psiquiatria pela UFRGS e médico contratado do Serviço de Psiquiatria de Adições do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Marianne de Aguiar Possa é psiquiatra especialista em psicoterapia pela UFRGS e médica contratada do Hospital de Clínicas de Porto Alegre pelo Serviço de Psiquiatria de Adições.
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