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Como funciona o efeito da maconha no organismo em geral e no cérebro?
O principal componente ativo da maconha, o THC, se liga a dois tipos principais de receptores: o CB1, mais proeminente no sistema nervoso central, e o CB2, mais encontrado no resto do organismo. Esses receptores são ativados por substâncias produzidas por diversos tipos celulares, incluindo os neurônios. Essas substâncias são, por isso, chamadas de canabinoides endógenos, ou endocanabinoides. São como “maconhas” produzidas pelo nosso organismo.
Os endocanabinoides são protagonistas numa complexa rede de mecanismos fisiológicos, metabólicos, sensoriais, comportamentais, cognitivos e emocionais, que agem de forma integrada para manter a homeostase (equilíbrio do ambiente interno do organismo) em situações de normalidade e em situações pós-estresse. Basicamente, o sistema endocanabinoide, composto pelos endocanabinoides per si e seus receptores, funciona como orquestrador de alterações de ajuste a flutuações normais e, sobretudo, como coordenador de ajustes necessários ao retorno do organismo à normalidade após a adaptação aguda a algum tipo de estresse. Por isso, o THC da maconha gera simultaneamente e de forma mais intensa um conjunto grande de efeitos dos quais nosso próprio organismo lança mão normalmente para lidar com flutuações diárias e/ou situações adversas. Assim, a maconha causa sensação de relaxamento psicológico, relaxamento muscular e maior capacidade de introspecção (aumenta o foco e a atenção em aspectos específicos e diminui a atenção em aspectos dispersos do ambiente). Aumenta a percepção, a sensibilidade e a apreciação lúdica, estética e hedônica de todos os sentidos (olfação, gustação, audição, tato, visão e propriocepção). Diminui a sensação de dor, diminui a ansiedade. Aumenta a criatividade e dificulta o pensamento objetivo, que é substituído por uma capacidade atípica de integração de ideias, conceitos e emoções de forma mais flexível e subjetiva. Melhora a capacidade de gerar imagens mentais. Reduz transitoriamente a memória de curto prazo e, por isso, distorce a noção de tempo. Aumenta o apetite, atrasa a sensação de saciedade e elimina náuseas.
Os efeitos fisiológicos do sistema endocanabinoide e, por conseguinte, muitos dos efeitos da maconha são em grande parte resultantes da inibição do chamado sistema nervoso autônomo simpático (que atua em situações de emergência que demandam luta ou fuga) e pela ação estimuladora, ou permissiva, que o THC exerce sobre o chamado sistema nervoso autônomo parassimpático (que predomina em situações de normalidade). Essa ação sobre o sistema nervoso autônomo, em concerto com a ação dos canabinoides sobre circuitos do sistema nervoso central, promove, por exemplo, as sensações de bem-estar e calma, relaxamento muscular, redução da dor, aumento do apetite e da mobilidade gástrica, redução da sensação de náusea, aumento do armazenamento de reservas nutricionais (gordura e glicogênio), atenuação da resposta imune e inflamatória, e a estimulação da interação social e afetiva. Todos esses efeitos são transitórios e reversíveis. Em doses excessivas, ou quando abusada por um longo período, muitos dos efeitos da maconha, mas nem todos, serão os opostos dos descritos acima. Embora seja normalmente ansiolítica, em determinadas situações, a maconha pode potencializar o mau humor e a ansiedade, e eventualmente gerar estados paranoides moderados e transitórios.
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