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Estresse e saúde mental se enquadram em saúde do trabalho?

Com certeza sim e decorrem de várias relações. É importante salientar que toda profissão ou trabalho é fonte de prazer e sofrimento associados. O sujeito inicia o seu processo de adoecimento mental quando o sofrimento gerado pela realidade do trabalho é maior que o prazer obtido com o mesmo.

Quando nos empregamos em uma organização qualquer, esta já tem estruturados os seus modos de produzir, determinando assim as condições e organização do trabalho independentemente da vontade de quem ali chega. Já tem também estabelecidos modos de pensar, sentir e agir em relação à própria organização e as relações sociais ali estabelecidas, o que pode ser definido como cultura organizacional.

Este sujeito, agora empregado nesta organização, já tem também uma história de vida constituída, que lhe moldou a personalidade e o caráter. Tem sonhos e ambições que almeja sejam realizados, assim como tem necessidades (materiais ou psicológicas) que precisam ser supridas. Ou seja, um processo subjetivo e identificatório que o torna único, ainda que dentro de um mesmo padrão social compartilhado por todos nós.

E é na confrontação entre estes fatores, da história dessa pessoa e da realidade do trabalho, que se produz o sofrimento ou o prazer. Uma relação de trabalho saudável envolve ou compartilha, em certa medida, os objetivos individuais com os objetivos organizacionais. É preciso que o funcionário se desenvolva (em todas as dimensões possíveis), assim como a empresa que o contratou.

 

Não podemos esquecer que saúde deve ser entendida em um contexto mais amplo nesse caso, envolvendo também o sujeito ao meio em que ele vive: não há saúde sem uma moradia digna ou condições sanitárias adequadas (por exemplo, com uma vala de esgoto passando sob a sua porta); não há saúde sem educação de qualidade para si ou para os seus; ou sem alimentação ou vestimenta adequada... Nesse sentido ampliamos o conceito de saúde, conectando a pessoa em todas as instâncias de sua vida. O trabalho é somente uma delas.

Mas também é preciso que se ressalte que pode haver adoecimento na confrontação do que chamamos trabalho prescrito (aquele que dá a descrição do cargo a ser ocupado) com o trabalho real (aquele que efetivamente é realizado pelo sujeito) e ainda mais uma dimensão, a do real do trabalho (o que este trabalho produz no próprio sujeito). Por exemplo, você pode ser contratado para trabalhar como auxiliar administrativo, com X funções definidas. Além de fazer estas funções prescritas, a rotina do trabalho e as exigências das chefias imediatas (também pressionadas por outras chefias...) fazem com que você exerça N outras funções. Com medo de perder a vaga conquistada, muitas vezes nos submetemos. Outras vezes, podemos sofrer de assédio moral no trabalho, mas também nos submetemos pela mesma razão. O que o trabalho produziu em você? E o salário é necessário no final do mês. Pode ser também o caso de um trabalho maçante e nada desafiador, que não exige mais do que rotinas de movimentos mecânicos e vazias de um conteúdo significativo. O que esse trabalho produz?

A saúde mental no trabalho se alcança com um trabalho digno e exigente para o sujeito, no qual ele possa exercer suas atividades com qualidade de vida, dentro e fora do próprio ambiente de trabalho.

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