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Não é difícil imaginar que muito barulho também atrapalhe o desempenho cognitivo. Entre adultos, há evidências de piora da memória e de funções executivas durante a exposição ao barulho e mesmo um pouco depois de sua suspensão. As crianças são ainda mais vulneráveis, já que estão em franco processo de desenvolvimento cognitivo e os estudos apontam que múltiplas dimensões da cognição são afetadas por um ambiente cronicamente barulhento, como é o caso da atenção, motivação, memória e linguagem, chegando ao ponto de entenderem menos aquilo que leem.

Essa alta exposição a ruídos pode levar a um comportamento mais agressivo, reduzindo a capacidade de cooperação, o que pode se refletir no trânsito como um círculo vicioso. Mais ruído, mais intolerância, mais buzina, mais intolerância, mais acidentes… Vale lembrar que as ruas mais barulhentas são aquelas com maior emissão de poluentes, que, além de afetarem o sistema respiratório, também estão associados à exacerbação da aterosclerose e consequente aumento de doenças vasculares, como o infarto do coração e o derrame cerebral.

A saúde do homem não deve ser medida só por sua genética, pelo quanto ele se movimenta e dorme e por aquilo que entra pela boca/nariz, mas também pelas experiências sensoriais. No que diz respeito àquilo que entra pelos ouvidos, penso não só em ruídos, mas também no conteúdo das interações sociais, na música e demais artes que se comunicam com som. A busca do equilíbrio dessas sonoridades merece todo o nosso empenho.

 

 

Dr. Ricardo Teixeira – CRM/DF 12050 – é doutor em neurologia e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp. Dirige o Instituto do Cérebro de Brasília e é o autor do blog "ConsCiência no Dia a Dia".

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