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A vida do cuidador familiar pode ficar ainda mais difícil, pois o adoecimento do idoso pode desencadear uma série de desavenças entre os familiares – os outros membros da família não querem dividir o cuidado, questões passadas voltam à tona, começam a cogitar a administração dos bens do idoso –, situações que podem aumentar mais o desgaste do cuidador. Associado a isso, a sobrecarga do cuidador pode afastá-lo do cônjuge e dos filhos, gerando desajustes conjugais, podendo culminar com o divórcio ou a saída dos filhos de casa. Finalmente, um cuidador que se vê obrigado a cuidar do idoso em tempo integral lida com um outro problema: da ordem do financeiro. Muitos se veem obrigados a abandonar o mercado de trabalho, pois não há mais tempo disponível para isso. Assim, há disponibilidade de tempo para cuidar, mas há um grande impacto financeiro no orçamento familiar. Esse problema pode ter maiores impactos futuros: enquanto se cuida do idoso, há a possibilidade de utilizar a renda do mesmo para auxiliar nas despesas do grupo familiar (inclusive do próprio idoso, que, normalmente, tem muitos gastos, a maioria deles relacionados à saúde), porém, na maioria das vezes, após o óbito do idoso, essa renda deixa de existir, e pode ser tarde para o cuidador se reinserir no mercado de trabalho.

Com tudo isso em vista, fica claro o quanto pode ser difícil e desgastante ser cuidador de idosos, porém, felizmente, nem sempre acontece dessa forma. A principal preocupação é a de que o cuidador não faça tudo sozinho, divida as tarefas com outros familiares para não abrir mão de sua vida pessoal: sua própria saúde, suas relações familiares e sociais, suas finanças, sua qualidade de vida. Em casos onde não há opções de familiares para se dividir ou quando as relações encontram-se muito estremecidas – o que é bastante comum –, uma alternativa viável é a contratação de um cuidador de idosos profissional. Não é vergonha pedir a ajuda de outras pessoas para cuidar de um idoso, assim como não se deve sentir-se culpado quando a melhor opção é encaminhar um idoso para morar numa Instituição de Longa Permanência Para Idosos (ILPI). Também é importante que o cuidador se atente para a sua própria saúde e não hesite em buscar ajuda profissional médica ou psicológica quando perceber que não está bem. Lembre-se que só é possível cuidar bem de outra pessoa quando o cuidador também está bem.

No parágrafo anterior fiz referência ao cuidador profissional, o qual será apresentado. É aquela pessoa que se dedica profissionalmente a cuidar de idosos, ou seja, precisa ter feito cursos que o capacitam para o desempenho de tal função; não tem vínculos familiares com o idoso que assiste; precisa ser regulamentado, remunerado e ter direitos trabalhistas; pode desempenhar sua função no domicílio do idoso, como acompanhante em hospitais ou nas ILPIs. É um segmento do mercado de trabalho que se encontra em ascensão. O cuidador profissional pode ser benéfico para o idoso, que passa a contar com atendimento profissional e especializado; para o cuidador familiar, que fica menos sobrecarregado; para ele mesmo, por ser uma profissão regulamentada e com ampla possibilidade de inserção no mercado de trabalho.

Tendo tudo isso em vista, fica possível entender que o cuidador de idosos pode ser uma peça fundamental para a sobrevivência ou o bem-estar de um idoso. Importante que o ato de cuidar seja visto pelo cuidador (familiar ou profissional) como uma atividade prazerosa, que forneça satisfação pessoal ou profissional e que o cuidador não seja o único responsável pelo cuidado integral do idoso dependente. O cuidador não pode abdicar de sua própria vida integralmente visando o bem-estar do outro.

 

 

Luciene Corrêa Miranda é psicóloga clínica, mestre em Psicologia e professora na Escola de Enfermagem da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora

 

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