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E os tratamentos: quais são os mais recomendados para cada transtorno?

No momento da primeira consulta, uma entrevista clínica detalhada e cuidadosa deve ser feita tanto com o paciente como com a família, pois é comum que informações discordantes existam desde que os afetados pela doença podem não procurar ajuda médica por vontade própria e mesmo omitirem dados essenciais de seus comportamentos em relação à dieta, exercícios, abuso de laxantes e outras drogas.

Cabe ao profissional que atende ao doente e sua família explicar o que é um transtorno alimentar, como pode afetar a saúde física e mental, as complicações decorrentes da patologia e o tratamento. Deixar claro que o tratamento é longo, que a abordagem é multidisciplinar, as chances de cura, os riscos de recaídas e que o apoio da família principalmente para adolescentes é parte essencial do processo.

As observações sem fundamento de que o indivíduo com um TA está doente "porque não tenta se curar" ou "porque é fútil e busca a beleza" ou que "não tem força de vontade" são comuns de serem escutadas. Na verdade, a questão ocorre em muitas doenças psiquiátricas e quebrar esse preconceito com dados neurobiológicos e explicando como se instala um TA e se mantém é de fundamental importância.

Lidar com a ambivalência entre querer a cura e o medo é uma constante. É fácil entender que um indivíduo afetado pela AN entra em profundo conflito quando quem o atende diz que o tratamento não existe sem o ganho de peso, sabendo-se que o que mais o amedronta é justamente "engordar". Na BN, os pacientes duvidam que não engordarão se fizerem seis refeições ao dia, ou seja: através de uma dieta adequada e muitas vezes do uso de drogas como antidepressivos, quebra-se o ciclo do jejum seguido de comer compulsivo e mecanismos compensatórios.

Na anorexia alguns objetivos devem ser buscados para que o tratamento seja eficaz:

- Prevenir complicações e morte restaurando o peso;

- Modificar os pensamentos e comportamentos disfuncionais;

- Tratar a depressão se existente e os pensamentos obsessivos;

- Retornar ao desenvolvimento físico normal principalmente na faixa pediátrica;

- Restaurar autonomia e prevenir recaídas;

- Dar suporte aos familiares, amigos, parceiros do indivíduo afetado pela patologia.

O tratamento dessas crianças é fundamental. As complicações médicas, psicológicas e na vida do indivíduo afetado podem ser devastadoras. Porém, parece haver um melhor prognóstico quando o diagnóstico é feito precocemente.

Não é apenas um médico. O tratamento de qualquer TA envolve a participação de nutricionistas, psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais. Envolve principalmente a família no caso de adolescentes e crianças.

 

O Ambulatório de Transtornos Alimentares do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (ATAH) é um serviço público e, portanto, gratuito. Fica em Salvador, no Ambulatório Magalhães Neto (ao lado do Hospital Universitário Professor Edgard Santos) e funciona todas as segundas-feiras.

 

Referências:

Transtornos Alimentares em Crianças e Adolescentes do livro Gastroenterologia e Nutrição pp 678-711 - Editoras Elisa de Carvalho, Luciana Rodrigues Silva e Cristina Targa Ferreira - Barueri, SP: Manole, 2012 ISBN 978-85-204-3096-5.

 

Cabus Moreira L, Reis I. Algumas questões éticas no tratamento da anorexia nervosa. J Bras. Psiquiatr. 2008; 57 (3): 161-165.

 

 

Dra. Luiza Amélia Cabus – CREMEB 9204 – é professora de pediatria da UFBA, especialista em suporte nutricional enteral e parenteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral e coordenadora do Ambulatório de Transtornos Alimentares do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (ATAH) da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

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