A afta é uma doença frequente da cavidade oral que se caracteriza por episódios de repetição e sintomatologia dolorosa, também chamada de ulceração aftosa recorrente. É uma doença desafiadora, pois, apesar das milhares de pesquisas desenvolvidas ao redor do mundo, muito ainda precisa ser descoberto.
Sua causa ainda não está bem elucidada. É uma doença inflamatória de natureza imunológica provavelmente relacionada a uma deficiência imunológica local.
Muitas causas foram investigadas, como estresse, alterações hormonais, alimentos (principalmente cítricos como abacaxi), deficiência de vitamina B12, entre outras, mas nenhuma delas é considerada causa primária das aftas, embora qualquer uma delas possa apresentar um papel desencadeador.
Muitos fatores locais e sistêmicos, como infecções virais e bacterianas, hipersensibilidade a alimentos, fatores genéticos e doenças gastrintestinais, podem estar associados ao surgimento das aftas.
Alguns pacientes podem sentir ardência ou formigamento antes do surgimento da lesão. Clinicamente apresentam-se na forma de úlceras e nunca são precedidas por vesículas. Podem acometer a mucosa jugal (bochecha), ventre, assoalho, lateral de língua, toda a cavidade oral, menos comum no palato duro e na gengiva.
Caracterizam-se por uma única ou múltiplas úlceras rasas que medem na maioria das vezes até 1 cm, de forma oval ou circular. São doloridas na maioria das vezes e demoram em torno de 7 a 15 dias para cicatrizar.
A automedicação nunca é recomendada, visto que o paciente poderá se equivocar no diagnóstico e tratar uma lesão de boca como uma afta e ser outra doença. Existem inúmeras doenças orais, além disso, há doenças dermatológicas ou sistêmicas que podem se manifestar na boca. Cabe ressaltar que até mesmo câncer bucal pode se assemelhar a uma afta no seu início devido a sua apresentação clínica de úlcera, mas, ao contrário das aftas, não cicatriza com o tempo e costuma ser indolor no início.
O uso de bicarbonato de sódio, apesar de ser usado no dia a dia por muitas pessoas, não apresenta benefícios comprovados cientificamente. O ideal é que os pacientes somente utilizem medicação prescrita pelo seu dentista. Em casos mais severos, procurar um cirurgião-dentista especializado em doenças da boca (estomatologista).
Ilustrações: Kauê T. Freitas
Como a causa das aftas não é bem definida, não há um tratamento único estabelecido para essa doença, mas não se recomenda o uso de substâncias cáusticas, que causam danos maiores para a mucosa bucal. Anti-inflamatórios são usados na tentativa de melhorar a dor e o tempo de cicatrização das aftas. Casos mais complexos podem necessitar de terapêutica sistêmica com drogas que podem apresentar efeitos colaterais, por isso sempre se deve avaliar o custo-benefício do tratamento caso a caso.
Há alimentos que podem favorecer o aparecimento de aftas, principalmente os cítricos como abacaxi, laranja, limão, chocolate, glúten e nozes mostraram-se como fatores desencadeantes em alguns pacientes, mas isso é bastante variável.
Infelizmente não há como prevenir as aftas. A hereditariedade é um fator de risco. Em torno de 40% dos pacientes com úlceras aftosas recorrentes possuem um parente em primeiro grau que também apresenta a doença. Uma maneira de suavizar os surtos das aftas é o paciente tentar evitar os fatores que as desencadeiam.
Dra. Mônica Andrade Lotufo possui doutorado e mestrado em Diagnóstico Bucal pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. É Especialista em Odontopediatria.
