Atualmente, o que se tem observado, é que uma serie de modificações no estilo de vida das pessoas tem levado ao aumento da incidência de lesões não cariosas, particularmente por desgaste corrosivo. Este tipo de desgaste é conhecido em odontologia como erosivo, e tem etiopatogenia relacionada à desmineralização dental superficial, como o resultado físico de uma perda de conteúdo mineral provocada por ácidos e/ou quelantes, sem que haja o envolvimento de bactérias.
Sabe-se que causa da erosão dental está relacionada a fatores extrínsecos, os quais se referem a ácidos de origem exógena, muitas vezes de origem alimentar, como aqueles contidos nos refrigerantes, sucos e até mesmo alguns medicamentos; e também a fatores intrínsecos que se referem a alterações endógenas como, por exemplo, resultante de ácidos produzidos por vômitos, regurgitação e refluxos recorrentes, considerando que nestes casos distúrbios alimentares comportamentais como anorexia e bulimia nervosa podem estar ou não associados. Além disso, alguns autores também consideram o risco relacionado a atividades ocupacionais como metalúrgicos expostos a vapores ácidos, enólogos, nadadores entre outros.
Nesse contexto, este processo de dissolução mineral tem sido amplamente estudado e identificado não só em adultos como também em crianças e adolescentes. Existem estudos que afirmam que entre 20 a 60% das crianças e adolescentes apresentam indícios de erosão dental, em vista de seus hábitos dietéticos e estilo de vida. A erosão dental muitas vezes parece atuar na contramão da busca por uma vida saudável, onde o consumo de sucos de frutas cítricas, repositores isotônicos entre outros, tão consumidos no cotidiano moderno são muitas vezes bebidas, que assim como os refrigerantes apresentam valores de pH baixo, sendo portanto agentes potencialmente erosivos. De qualquer maneira, o maior problema em relação a erosão é que muitas vezes o processo de formação das lesões passa despercebido pelas pessoas, que apenas passam a procurar o cirurgião dentista quando as consequências deste processo começam a se tornar visíveis e incômodas. Clinicamente, o que se observa é que existe uma diminuição do brilho do esmalte, a lesão geralmente é rasa, ampla, sem bordas definidas; e diferente das lesões de cárie há a ausência de manchas de superfície. Comumente podemos dizer que os principais relatos dos pacientes ao procurarem o consultório odontológico são a sensibilidade dentinária e o comprometimento estético, uma vez que as bordas incisais dos dentes anteriores podem apresentar-se finas e fraturadas.
Em relação ao tratamento odontológico, este inicialmente, deve considerar a educação do paciente quanto a etiologia e as conseqüências do processo erosivo. Nos casos em que há um alto risco de ocorrência de lesões de erosão ou em casos em que as mesmas são detectadas clinicamente, é necessária a instituição de medidas que visem ao controle e/ou prevenção da perda estrutural dental causada pelo desgaste.
Basicamente, o tratamento da erosão dental inicia-se com o reconhecimento de sua causa. Mas dentro deste contexto, a reabilitação de função e de estética é considerada parte integrante do tratamento, melhorando a auto-estima do paciente, e, que dependendo da severidade do caso pode variar desde uma simples restauração até reabilitações orais complexas. Contudo, como medida prática ressalta-se que a principal recomendação é reduzir a exposição a ácidos, através da diminuição da freqüência de ingestão e tempo de contato com a estrutura dental, seguindo-se de instruções de escovação e de higiene oral, e também em relação ao fato de se evitar a escovação subseqüente a um desafio ácido, para evitar o agravante abrasivo promovido pela escovação e pelo uso de dentifrícios.
Por outro lado quando a erosão dental parecer estar relacionada a fatores intrínsecos, como refluxos gástricos, anorexia ou bulimia nervosa ou, quando se existe uma suspeita da presença desta lesão estar relacionada a uma alteração de origem comportamental, seja pela própria bulimia e anorexia, bem como a um alcoolismo crônico seguido de vômitos, um cuidado maior deve ser tomado em relação ao manejo desse paciente, nesses casos o tratamento multidisciplinar se torna essencial para o tratamento, pois muitas vezes, o sucesso na clínica odontológica estará associado a um tratamento concomitante a médicos e/ou psicólogos, principalmente em se tratando de desordens alimentares.
Dr. Francisco Carlos Rehder Neto é Cirurgião Dentista graduado pela Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – USP; Mestre pelo Programa de Pós-Graduação do Departamento de Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto - USP e Doutorando no mesmo tema.