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Qual o tratamento?
A grande diversidade de tumores intracranianos evidentemente implica em diferentes necessidades e modalidades de tratamentos.
Apesar de apenas o exame anátomo-patológico (análise de fragmentos do tumor obtidos por biópsia ou por remoção cirúrgica) poder fornecer com maior segurança o diagnóstico do tipo do tumor, atualmente as imagens e outras informações viabilizadas em particular pela ressonância magnética já sugerem, na maioria dos casos, qual é o tipo de tumor, e permitem ao neurocirurgião decidir o que deve ser feito (apenas observação e seguimento com exames de neuroimagem, biópsia, cirurgia com remoção parcial, cirurgia com remoção radical, tratamentos com radioterapia e com quimioterapia).
A limitação terapêutica atual dos outros métodos faz com que a cirurgia ainda seja a principal forma de tratamento de muitos dos tumores intracranianos. Apesar dos avanços propiciados, principalmente, pela microneurocirurgia que se desenvolveu ao longo das últimas três décadas, a remoção cirúrgica dos tumores intracranianos ainda tem como principal limitação a localização de alguns destes tumores, dadas as suas relações e embricamentos com estruturas intracranianas funcionalmente muito importantes.
Os tumores intracranianos extrínsecos (meningeomas, neurinomas, adenomas hipofisários, craniofaringeomas e metástases encefálicas, entre outros menos frequentes) se prestam mais à remoção microneurocirúrgica, principalmente, por serem tumores delimitados das estruturas vizinhas (por apresentarem bons planos de clivagem na terminologia cirúrgica).
Os meningeomas, tumores frequentes e em geral benignos, que se desenvolvem em locais específicos, têm as suas dificuldades e riscos relacionados com o local em que se desenvolvem.
Quando localizados na base do crânio as suas remoções são mais difíceis e limitadas pelas suas relações com artérias e nervos cranianos, e o mesmo pode eventualmente ocorrer com os neurinomas intracranianos e com os craniofaringeomas. Eventualmente, esses tumores, os seus resíduos e as suas recidivas, podem também ser tratados com técnicas específicas de radioterapia. Quando de pequenas dimensões, e principalmente se assintomáticos (sem estarem causando qualquer repercussão clínica), podem eventualmente serem apenas observados e seguidos com exames seriados de ressonância magnética.
As metástases encefálicas freqüentemente são múltiplas, e em geral requerem tratamento com diferentes técnicas de radioterapia mesmo que possam ser inicialmente removidas. O tratamento também com quimioterapia deve ser indicado conforme o tipo de tumor primário que originou as metástases.
Em relação aos tumores intracranianos primários e intrínsecos do encéfalo, enquanto alguns destes tumores, classificados em geral como gliomas de graus I e II e que incidem mais em crianças e adultos jovens (astrocitomas pilocíticos, subependimomas, ependimomas e oligodendrogliomas de baixo grau, astrocitomas subependimários de células gigantes, xantoastrocitomas pleomórficos, gangliocitomas e gangliogliomas, neurocitomas, e tumores neuroepiteliais desembrioblásticos), podem potencialmente ser curados com as suas remoções cirúrgicas, alguns gliomas de grau II (astrocitomas difusos), e os gliomas de grau III (astrocitomas, oligodendrogliomas e ependimomas anaplásicos) e de grau IV (glioblastoma multiforme), bem mais freqüentes, infelizmente em geral recidivam mesmo após remoções aparentemente radicais, em frequencias e após períodos dependentes de cada tipo de tumor. No entanto, as suas ressecções devem também, em geral, ser feitas sempre que possam não causar déficits neurológicos, com a intenção de eventualmente curá-los (possibilidade ainda controversa nos astrocitomas difusos grau II), e/ou visando com as suas remoções otimizar os resultados dos seus tratamentos complementares com rádio e com quimioterapia, e melhorar a qualidade de vida minimizando possíveis quadros convulsivos, de hipertensão intracraniana, e o conseqüente uso de altas doses de corticóides para minimizar os sintomas decorrentes de hipertensão intracraniana (mais comuns nos tumores de graus III e IV).
Paralelamente ao consenso de que a radioterapia não deve ser utilizada no tratamento dos gliomas de grau I, a sua indicação em gliomas de grau II é extremamente discutível, e o seu emprego nos gliomas de graus III e IV é considerado obrigatório. Atualmente, a quimioterapia também tem sido empregada no tratamento dos gliomas de graus III e IV.
Existe prevenção?
Assim como já mencionado por ocasião da discussão das suas causas, os tumores intracranianos não se relacionam com fatores conhecidos que viabilizem qualquer prevenção específica dos seus aparecimentos.
Prof. Dr. Guilherme Carvalhal Ribas é Professor Livre-Docente de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Setor de Neuroanatomia Aplicada da Disciplina de Topografia Estrutural Humana do Departamento de Cirurgia da FMUSP. Neurocirurgião do Hospital Israelita Albert Einstein. Professor of Clinical Neurosurgery” da Universidade da Virgínia, EUA. Professor de cursos anuais de Microneuroanatomia Cirurgica nas Universidades da Virgínia (EUA), de Cambridge (Inglaterra) e do Minho.
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