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Existe uma forma de tratamento?

Sim, a abordagem dos pacientes deve oferecer suporte e escuta empática que respeite o limite daquilo que o paciente deseja falar sobre como vivenciou e se sente após o trauma, proporcionando orientações de ordem prática, como garantir sua segurança e facilitar o acesso às organizações que possam ajudá-lo.

O suporte familiar, social e até o religioso se mostraram eficazes em melhorar o curso do traumatizado a médio e longo prazo em diversos estudos, principalmente em pacientes que estavam “motivados” a usar essa rede. Sendo assim, nas primeiras duas semanas pós-trauma as intervenções deveriam ser mais expectantes e de suporte, que podem aumentar as chances de evolução “natural” do quadro. Entretanto, quando o paciente apresenta características clínicas do TEPT, o tratamento medicamentoso e psicoterápico deve ser iniciado.

O tratamento de primeira linha são os antidepressivos chamados de Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina. Esses medicamentos se mostraram eficazes nos três grupamentos de sintomas do TEPT, bem como no tratamento da comorbidade com depressão, que ocorre frequentemente. O efeito terapêutico dos ISRSs ocorre pela modulação da neurotransmissão serotoninérgica central. O incremento na neurotransmissão serotoninérgica central causada pelos ISRSs aumentaria a capacidade do paciente em lidar com o estresse diário, aumentaria a resiliência a eventos aversivos ambientais e diminuiria o impacto negativo de lembranças relacionadas ao evento traumático.

Existem algumas evidências da eficácia da venlafaxina e dos antidepressivos tricíclicos. Poucos estudos sugerem uma eficácia menor com os IMAOs, mirtazapina, trazodona, nefazodona, bupropiona, reboxetina e duloxetina. O início de ação dos antidepressivos acontece entre 2 e 4 semanas de tratamento. Outras medicações como estabilizadores do humor, antipsicóticos e bloqueadores adrenérgicos podem ser úteis em casos particulares, como resíduos de alguns sintomas específicos e comorbidades psiquiátricas, que estão presentes em 85% dos pacientes com TEPT.

Existe uma grande tendência do uso de benzodiazepínicos neste transtorno, entretanto são menos eficazes, e recomenda-se cautela com essa classe de medicações devido ao risco de abuso e dependência. Sendo assim, seu uso pode ser útil em situações específicas, e por tempo limitado, especialmente quando houver comorbidade com outros transtornos de ansiedade.

 

 

 

Sara Mota Borges Bottino – CRM/SP 68701 – é graduada em Medicina pela Universidade Federal da Bahia e Mestre em Psiquiatria pela FMUSP. Possui distinção em Psico-Oncologia pela Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia. Atua como psiquiatra e psicoterapeuta do Centro de Referência da Saúde da Mulher, e supervisionando residentes de ginecologia e mastologia. Psiquiatra do Instituto do Câncer de São Paulo.

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