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Como pode ser feito o tratamento?

A dilatação vaginal (realizada pela própria paciente), um tratamento não cirúrgico, é considerada como primeira opção de tratamento desta síndrome pelo Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia. Neste caso, um dilatador rígido (uso progressivo de tamanhos maiores) é introduzido na vagina após banho de imersão e mantido nesta região (pressão gerando leve desconforto) por um período de 30 minutos uma vez ao dia. O sucesso desta modalidade de tratamento é atingido em cerca de 88% das pacientes (após cerca de 19 meses do início do tratamento). As complicações para este tratamento são raras (cistite, uretrite, fístulas vesico ou reto-vaginal). O sucesso funcional é definido como a capacidade de manter relações sexuais, aceitação vaginal do maior dilatador sem desconforto ou um comprimento vaginal de pelo menos 7 cm.

O tratamento cirúrgico é indicado quando há falha do tratamento não cirúrgico (uso de dilatadores) ou a paciente deseja um resultado mais rápido. A cirurgia mais utilizada é a técnica de McIndoe, com sucesso em 92% dos casos. Nesta técnica, uma cavidade entre o reto e a bexiga é criada e um enxerto de pele (que é colocado sobre um molde rígido) é deixado em posição por cerca de 3 meses (24 horas/dia). Nas próximas 3 a 4 semanas, o molde é mantido na região durante 12 horas ao dia. Após este período, caso a vida sexual seja mantida de maneira regular, o molde é retirado e não mais utilizado. No caso de ausência de vida sexual, o molde deve ser colocado na vagina e mantido por cerca de uma hora, uma vez por semana. Entre as complicações (infreqüentes), podemos citar a estenose vaginal, rejeição do enxerto, ansiedade. Pacientes que utilizam corretamente o molde e que mantém atividade sexual constante obtém dimensões satisfatórias da neovagina em termos de comprimento, diâmetro e elasticidade.

A decisão de tratamento não cirúrgico ou a criação de uma neovagina através de cirurgia deve ser individualizada para cada paciente. O tratamento envolve a combinação de suporte psicológico e correção da anormalidade anatômica. Os aspectos psicológicos de um diagnóstico de ausência de vagina podem ser massacrantes para qualquer mulher, em especial adolescentes. Um forte apoio e aconselhamento e preparo psicológico antes do tratamento tem um papel crítico na resolução desta condição.

Finalmente, a infertilidade representa o aspecto mais difícil desta doença para a paciente. Hoje em dia, a medicina reprodutiva possibilita que pacientes com esta condição possam ter seus próprios filhos através da fertilização in vitro com seus próprios óvulos e espermatozóides do marido, com a utilização de barriga de aluguel (cessão temporária do útero). Contudo, o risco de transmissão desta afecção para a prole é desconhecido, uma vez que muito pouco se sabe sobre a genética da síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser.

 

É possível levar uma vida normal? O prazer sexual sofrerá mudanças?

Após o tratamento, a maioria das pacientes (cerca de 80%) refere melhora significativa da vida sexual, com cerca de 75% delas referindo orgasmo. A auto-imagem da mulher também apresenta uma melhora significativa. A dor na relação (dispareunia) usualmente ocorre em mulheres que tiveram um comprimento menor da vagina após o tratamento (< 6 cm). Pacientes com comprimento vaginal maior apresentação um elevado grau de satisfação, com menor desconforto.

 


Dr. Paulo Marcelo Perin possui Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Atua no CEERH - Centro Especializado em Reprodução Humana.

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