Um estudo desenvolvido no Laboratório de Biologia Molecular do Hemocentro da Unicamp, da cidade de Campinas (SP), pode trazer novas perspectivas para que o mecanismo do câncer seja desvendado. A pesquisa inédita, feita com células humanas normais e cancerígenas, mostra pela primeira vez a participação de uma proteína na adesão e na migração celular.

Conduzido pela biomédica Karin Barcellos e orientado pela médica hematologista Sara Olalla Saad, o trabalho obteve grande destaque na comunidade científica, inclusive participando da matéria de capa da edição de janeiro da Revista de Biologia Química da Sociedade Americana de Biologia Química e Molecular.

"Todas as células do corpo, para formar os tecidos e órgãos, precisam se aderir. Nos tumores, quando a adesão se desfaz, a célula pode sair e invadir outros tecidos, gerando o que chamamos de metástase. Nesse processo de migração, a adesão é essencial. Se a adesão é forte, a célula não se solta", explica Karin, em entrevista ao Jornal da Unicamp.

Desde a década passada, a equipe do Hemocentro da Unicamp vem estudando as funções da proteína ARHGAP21. A orientadora do trabalho, Sara Olalla Saad, inclusive foi responsável pelo sequenciamento e descrição da proteína denominada ARHGAP21 dentro do Projeto Genoma Humano do Câncer.

No estudo desenvolvido por Karin, foi descoberto que a ARHGAP21 regula o citoesqueleto e age nas proteínas Rho-GTPases, que por sua vez regulam o movimento celular, a adesão, a migração e a diferenciação celular. Como a ARHGAP21 age negativamente nas Rho-GTPases, elas ficam hiperativadas, o que causa crescimento celular descontrolado, resultando no desenvolvimento de tumores e metástases.

"Quando um tumor tem migração acelerada, quem está regulando essa função? Será que a ARHGAP21 é a chave que liga e desliga isso? A partir dessas indagações descobrimos três achados importantíssimos no processo de adesão célula-célula", destaca Karin.

 

Procedimentos adotados

Durante a pesquisa in vitro, a biomédica utilizou dois diferentes tipos de célula humana: saudáveis e tumorais de câncer de próstata. Para provocar a adesão celular, Karin adicionou cálcio e, após quatro horas, verificou que a ARHGAP21 estava presente nas junções das membranas celulares, mas ia embora após participar desse processo.

Para provar essa dinâmica, Karin inibiu a ação da proteína. A partir daí, o que pôde ser observado foi uma adesão mais fraca das células, que logo se soltavam, além da participação dos microtúbulos, estruturas cilíndricas formadas por duas outras proteínas (alfa e beta) chamadas tubulinas e que participam do processo de migração celular.

 

Fonte: Jornal da Unicamp

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