Uma pesquisa realizada na Grã-Bretanha revelou que aparentemente o mosquito da dengue desenvolveu resistência a um princípio ativo presente na maioria dos repelentes atualmente comercializados no mundo, inclusive no Brasil.

A DEET, ou dietiltoluamida, é usada em repelente contra insetos, combatendo mosquitos, pernilongos, muriçocas e borrachudos. O composto age interferindo nos receptores sensoriais desses animais, inibindo seu desejo de picar o usuário.

Os pesquisadores analisaram a reação de mosquitos Aedes aegypti, vetores da dengue e da febre amarela, à substância e concluíram que, ainda que inicialmente repelidos pelo composto químico, os insetos depois o ignoraram.

A recomendação dos pesquisadores é a de que os governos e laboratórios farmacêuticos realizem mais pesquisas para encontrar alternativas a essa substância.

Isca

Para provar a eficácia da substância DEET, os cientistas pediram a voluntários que passassem na pele um repelente com a substância em um braço e, depois, soltaram os mosquitos. Em um primeiro momento, o repelente afastou os mosquitos, mas, algumas horas depois, quando ofereceram aos mesmos mosquitos uma nova oportunidade de picarem a pele, os cientistas constataram que a substância se mostrou menos eficiente.

Para investigar os motivos da ineficácia da DEET, os pesquisadores puseram eletrodos na antena dos insetos. "Nós conseguimos registrar a resposta dos receptores na antena dos mosquitos à DEET, e então descobrimos que os mosquitos não eram afetados pela substância", disse James Logan, da London School of Hygiene and Tropical Medicine, instituição que realizou o estudo.

"Há algo sobre ter sido exposto ao composto químico pela primeira vez que muda o sistema olfativo dos mosquitos. Ou seja, a substância parece mudar a capacidade dos mosquitos de senti-la, o que a torna menos eficiente", acrescentou.

Uma outra pesquisa anterior feita pela mesma equipe constatou que as mudanças genéticas em uma mesma espécie de mosquito podem torná-los imunes à DEET.

"Os mosquitos evoluem muito rapidamente", disse ele. "Quanto mais nós pudermos entender sobre como os repelentes funcionam e os mosquitos os detectam, melhor poderemos trabalhar para encontrarmos soluções para o problema quando tais insetos se tornarem resistentes à substância."

Segundo o especialista, as descobertas não devem impedir que as pessoas continuem usando o repelente em áreas de alto risco, porém, ele salienta que caberá aos cientistas tentar desenvolver novas versões mais efetivas da substância.

Para complementar o estudo, os pesquisadores britânicos agora planejam entender por quanto tempo o efeito dura depois da primeira exposição ao composto químico. Outros mosquitos, incluindo espécies que transmitem a malária, também devem ser estudados.

Brasil

No Brasil, a dietiltoluamida está presente na maioria dos repelentes encontrados à venda. Produtos com termetrina e citronela também podem ser achados, mas em menor número.

Esta não é a primeira vez que a substância causa polêmica. No ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) abriu para consulta popular uma proposta de resolução para assegurar a segurança e a eficácia dos repelentes a ser adotada pelos fabricantes.

No documento, o órgão determinava, por exemplo, a proibição do uso de repelentes com DEET em crianças menores de dois anos, além de informar sobre a necessidade de um estudo prévio para produtos com dosagem acima de 30% para um público acima de 12 anos. Em altas dosagens, especialmente em crianças, repelentes com DEET podem ser tóxicos.

Em entrevista à BBC Brasil, Jorge Huberman, pediatra e neonatologista do Hospital Albert Einstein e diretor do Instituto Saúde Plena, sugeriu alternativas ao uso de repelentes com DEET. "É comum que depois de algum tempo os mosquitos adquiram certa imunidade ao produto, ainda que sejam necessários mais estudos para comprovar tal tese", explicou.

"Como alternativa, as pessoas podem usar repelentes com citronela e tomar complexo B, cujo cheiro desagrada os mosquitos, além, é claro, de usar mosquiteiros", disse.

 

 

Fonte: BBC

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