Um estudo publicado recentemente que relaciona sobrepeso com aumento do tempo de vida gerou bastante controvérsia na comunidade médica.

De acordo com o estudo, embora os graus mais elevados de obesidade estejam relacionados a um aumento de mortalidade, pessoas com discreto aumento de peso (sobrepeso) viveriam mais do que indivíduos com peso normal. Ainda segundo o estudo, indivíduos com sobrepeso tiveram 6% menor risco de mortalidade por todas as causas quando comparados aos indivíduos normais.

Segundo a endocrinologista Claudia Chang, alguns pontos devem ser analisados com cautela. Embora o estudo seja uma revisão sistemática na qual foram analisados em conjunto vários trabalhos de alta qualidade previamente publicados, é importante ressaltar que o parâmetro analisado no estudo do JAMA foi apenas o Índice de Massa Corporal (IMC), uma correlação entre peso e altura.

Segundo Claudia, o problema desse parâmetro é que ele não reflete a qualidade do peso corporal (percentual de gordura e massa magra). Além disso, outro parâmetro não avaliado foi a circunferência abdominal, que tem correlação direta com gordura visceral. "Por exemplo, um indivíduo com sobrepeso pode ter um percentual baixo de gordura com grande quantidade de massa magra (músculo). Na balança ele tem sobrepeso (IMC entre ≥25 e <30), mas sua composição corporal é excelente”, diz ela.

Outro dado que representa um viés no resultado do estudo é que, no trabalho, levou-se em consideração mortalidade por todas as causas e não apenas mortalidade por risco cardiovascular, sabidamente um critério com correlação mais significativa com peso.

O mais importante do estudo, publicado em uma revista médica renomada, Journal of the Medical American Association (JAMA), é que, embora a correlação entre peso corporal e mortalidade por todas as causas pareça beneficiar os indivíduos um pouco acima do peso (sobrepeso), isso não pode ser traduzido como algo inquestionável e o próprio trabalho em questão tem importantes pontos metodológicos que precisam ser aprimorados. "No final das contas, dieta saudável e atividade física ainda são, de longe, a melhor maneira de garantir mais anos de vida (e com mais qualidade!)", finaliza ela.

 

Dra. Cláudia Chang é graduada pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. Endocrinologia e Metabologia pela UNESP. Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Doutoranda em Endocrinologia e Metabologia pela USP. Coordenadora e Professora de Pós-Graduação em Endocrinologia pelo ISMD.

 

 

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