Fatores ambientais, principalmente a poluição por agentes químicos, podem estar relacionados a um novo tipo de doença: a tireoidite química autoimune. A possibilidade foi levantada por uma pesquisa recente da professora de endocrinologia da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), Maria Angela Zaccarelli Marino, que foi aceita para a publicação em um dos mais renomados periódicos sobre imunologia, o Journal of Clinical Immunology.
O estudo analisou, durante 15 anos, moradores da capital paulista e de outras quatro cidades do Grande ABC, por meio de acompanhamento e avaliação de mais de 6 mil pacientes por consultas médicas e exames laboratoriais de sangue com dosagem dos hormônios tireoidianos.
Os primeiros passos da pesquisa tiveram início em 1989, quando foram constatados muitos casos de tireoidite crônica autoimune na divisa entre Santo André, São Paulo e Mauá, região onde estão instaladas várias indústrias do setor petroquímico. A partir daí, foram avaliadas 6.306 pessoas, com idade entre 5 e 78 anos.
De acordo com Zaccarelli, os pacientes foram divididos em dois grupos conforme o local de moradia: 3.356 pacientes do grupo 1, que residiam em locais próximos às indústrias petroquímicas, e 2.950 pacientes do grupo 2, que moravam em regiões mais afastadas da região industrial.
Resultados obtidos
Durante os primeiros anos de estudos, os resultados mostraram que, em 1992, apenas 2,5% da população do grupo 1 apresentava sintomas da tireoidite crônica autoimune. Pouco menos de 10 anos depois, em 2001, o mesmo grupo apresentava taxa de 57,6%, enquanto a população do grupo 2 não apresentou aumento significativo.
"A poluição pode ser o fator desencadeante para formação de anticorpos antitireoidianos, que são substâncias que agridem a glândula tireoide, ocasionando a tireoidite crônica autoimune. Os poluentes funcionariam como gatilho para desencadear o problema", detalhou a pesquisadora.
Além da poluição, Zaccarelli completa que outras doenças autoimunes, como diabetes tipo 1, vitiligo, lúpus, artrite reumatoide e esclerose múltipla, podem estar relacionadas à tireoidite crônica autoimune. "Em crianças, o aumento de casos de tireoidite crônica autoimune foi acima de 40% no período estudado. São dados preocupantes, visto que a doença é a maior causa de hipotireoidismo primário, que se não for tratado adequadamente pode levar a danos irreversíveis", ressalta.
Fonte: Agência Brasil