Um estudo feito pela Universidade da Califórnia (Ucla), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), pode representar uma inovação na prevenção da transmissão vertical do HIV (tentativa de impedir que o bebê seja infectado pela mãe soropositiva durante a gestação, parto ou amamentação). Segundo o estudo, a combinação de dois ou três antirretrovirais (Nevirapina, Nelfinavir e Lamivudina), com a primeira dose ministrada à criança em até 48 horas após o parto, demonstrou ser duas vezes mais eficaz para o corte da transmissão do HIV quando comparada ao uso de AZT (tratamento considerado pela OMS – Organização Mundial da Saúde – o mais eficaz).
O estudo foi feito entre abril de 2004 e julho de 2010, com 1684 crianças tratadas em 17 hospitais da África do Sul, Argentina, Estados Unidos e Brasil, sendo que 70% dos bebês participantes são vinculados a instituições brasileiras. Todas as mães descobriram ter a doença pouco antes do parto, e por isso não foram tratadas com AZT durante a gestação.
As crianças foram separadas em três grupos de análise e receberam diferentes combinações dos medicamentos: o primeiro grupo, com 566 crianças, recebeu somente AZT, o segundo, com 562, AZT e Nevirapina, e o terceiro, com 556, AZT, Nelfinavir e Lamivudina. A primeira dose dos medicamentos foi dada nas 48 horas iniciais de vida do bebê, sendo que o tratamento continua por seis semanas.
De todas as crianças que participaram do estudo, 140 foram infectadas antes da administração dos antirretrovirais; em 97 a transmissão ocorreu durante a gestação; e em 43, no parto. Após três meses de acompanhamento, a transmissão ocorreu em 4,8% dos bebês que receberam somente AZT, mas apenas em 2,2% dos que receberam AZT e Nevirapina e em 2,4% dos que tomaram AZT, Nelfinavir e Lamivudina. Também foi constatado que a terapia com duas drogas, aplicadas ao segundo grupo, quando comparada com a de três (terceiro grupo), foi menos tóxica.
O Ipec/Fiocruz foi o responsável por coordenar a pesquisa no Brasil, com a infectologista Valdilea Veloso. "Com a conclusão da primeira fase do estudo, constatamos que o reforço do tratamento de bebês tem impacto importante na transmissão vertical. Mas o projeto continua. Vamos analisar outros aspectos a partir de agora, como, por exemplo, a genotipagem dos bebês e das gestantes", afirmou a pesquisadora do IOC (Instituto Oswaldo Cruz), Mariza Morgado, que participou do estudo.
A pesquisa foi publicada na revista científica americana The New England Journal of Medicine.
Fonte: Fiocruz