Mudança se deve à maior ocorrência da doença verificada em adolescentes e adultos jovens
Nos últimos anos, vários países do mundo têm detectado aumento no número de casos de coqueluche, a despeito da boa cobertura da vacina tríplice bacteriana (DTP) contra difteria, tétano e coqueluche (pertussis), recomendada para crianças menores de sete anos. Segundo o infectologista Jessé Reis Alves, responsável pelos serviços de Vacinação e de Consulta ao Viajante do Fleury Medicina e Saúde, os dados mais recentes foram divulgados pelo Departamento de Saúde da Austrália. “Foram registrados mais de 40 mil casos de coqueluche em crianças e adultos entre julho de 2010 e julho de 2011, o que representou aumento significativo da incidência anual média da doença naquele país”, relata.
O aumento se deve à maior ocorrência de casos entre adolescentes e adultos jovens. “A literatura científica já demonstra que muitos adultos voltam a ser suscetíveis à doença, uma vez que perdem a imunidade contra coqueluche produzida pela vacinação completa da infância”, explica o infectologista.
Com base nessa constatação, muitos países têm modificado as recomendações de imunização com a DTP, administrada para crianças em um esquema de cinco doses, sendo três no primeiro ano de vida, o primeiro reforço aos 15 meses, e o segundo entre quatro e seis anos de idade. A nova recomendação prevê que o próximo reforço, anteriormente feito aos 15 anos com a vacina dT – portanto, sem o componente pertussis – passe a ser feito com a vacina tríplice bacteriana acelular formulada especificamente para o adulto (dTpa).
Nos EUA, essa vacina já foi incorporada ao calendário vacinal oficial há algum tempo. O esquema americano prevê uma dose de dTpa aos 11 ou 12 anos de idade, podendo ser administrado até os 64 anos para pessoas que não a receberam previamente.
Neste mês de julho, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), órgão do governo norte-americano, divulgou uma ampliação dessa indicação, incluindo os maiores de 64 anos, especialmente aqueles sujeitos a maior risco de aquisição da doença, como os que convivem com crianças ou, ainda, aqueles que vão viajar para áreas onde ocorreu aumento do número de casos e regiões de baixa cobertura vacinal. “É importante lembrar que os adultos infectados podem transmitir a bactéria para as crianças menores que ainda não receberam a vacina ou que ainda não completaram o esquema primário. A vacina nos mais velhos acaba por proteger, portanto, também os mais novos”, acrescenta Alves.
A Sociedade Brasileira de Imunizações já inclui a dTpa em seu calendário vacinal, em substituição à dT, no reforço previsto entre os 14 e os 16 anos. Para adultos que não receberam ou que não tenham registro de esquema básico com três doses de DTP, a imunização deve ser feita com dT ou TT a qualquer momento, sendo uma das doses substituídas por dTpa.
O calendário oficial do Programa Nacional de Imunizações brasileiro ainda não incorporou – por questões farmacoeconômicas – a dTpa, que, entretanto, já está licenciada pela Anvisa e pode ser obtida na rede privada.