Índice deste artigo:

Há riscos para a saúde de quem faz uso de anabolizantes? Que doenças podem acarretar?

Sim. O uso de altas doses de anabolizantes pode promover desde simples efeitos colaterais até doenças graves. Dependendo da dosagem, do indivíduo e do tempo de tratamento, as alterações podem ser irreversíveis e afetar diferentes tecidos.

No sistema cardiovascular foi relatado aumento do colesterol; diminuição do HDL; aumento do LDL e da agregação plaquetária; arteriosclerose; trombose; cardiomiopatias; infartos do miocárdio; AVC (acidente vascular cerebral); e embolia pulmonar.

No sistema reprodutor, em homens, houve casos de diminuição dos níveis de hormônio luteinizante e folículo estimulante, levando à diminuição da produção endógena de testosterona. Também foi relatado diminuição da espermatogênese e atrofia testicular, infertilidade, oligo ou azoospermia, impotência, hipertrofia da próstata, carcinoma prostático e ginecomastia. Em mulheres foram encontrados casos de amenorréia (ausência de menstruação) e infertilidade, atrofia uterina, aumento do clitóris, atrofia dos seios, virilização e engrossamento da voz.

Em crianças pode ocorrer o fechamento prematuro das epífises ósseas (placas de crescimento ósseo), aumento da taxa de rupturas e lesões musculares, além de retardo do crescimento. Outros problemas comuns são a hiperseborréia, a acne (devido à infecção dos canais e das glândulas sebáceas), o edema (acúmulo de água nos tecidos), o crescimento de pêlos no corpo e na face, a calvície e o tumor de Wilm no aparelho urinário.

No fígado, encontramos relatos de lesões celulares, tumores benignos e malignos, aumento nos níveis de enzimas como a lactato desidrogenase, a aspartato aminotransferase e a alanina aminotransferase (que servem de marcadores de dano celular) e peliose hepática (doença caracterizada por múltiplos pequenos cistos hemorrágicos distribuídos aleatoriamente pelo parênquima do fígado). Também foram encontrados: diminuição da tolerância à glicose (podendo contribuir para a formação de um quadro de diabetes), imunossupressão (diminuição dos níveis de defesa do corpo, como linfócitos, IgG, IgA e IgM) e a hepatite e o HIV (devido ao freqüente uso compartilhado de seringas).

Em estudos comportamentais foram encontrados casos de irritabilidade, aumento da agressividade, euforia, depressão, aumento da libido, psicose, vício, dependência e mudanças de humor.

É importante lembrar que os efeitos colaterais e todas essas doenças aqui relatadas nem sempre são percebidos no momento em que os anabolizantes estão sendo ingeridos. Muitos deles acontecem silenciosamente, e os usuários, muitas vezes, só percebem quando o quadro já é grave, quando infartam, quando começam a sentir dor nos rins... e nesse momento pode ser tarde demais.

 

Será que não chegou o momento de refletirmos?

O que é “melhor”: um corpo “sarado”, que murcha quando paro de usar uma droga, ou um corpo saudável, que melhora minha qualidade de vida e as minhas opções de “divertimento” durante longos anos? Condicionamento físico e ganhos estéticos sem esforço não existem! O que vem fácil vai mais fácil ainda, e pode deixar seqüelas irreversíveis para o resto da vida!

 

Referências

 

AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS, Comitee on Sports Medicine and Fitness. Adolescents and Anabolic Steroids: A subject review. Pediatrics 99(6):904-8, 1997

 

RAMO, P; KETTUNEN, R; TIMISJARVI, J et al. Anabolic steroids alter the haemodynamic effects of endurance training on the canine left ventricle. Pflugers Archives 410(3): 272-8, 1987.

 

SCHMIDT, BMW; GERDES, D; FEURING, M et al. Rapid, Nongenomic Steroid Actions: A new age? Frontiers in Neuroendocrinology 21:57–94, 2000.

 

SHAHIDI, NT. A Review of the Chemistry, Biological Action, and Clinical Applications of Anabolic-Androgenic Steroids. Clinical Therapeutics 23(9):1355-90, 2001.

 

Williams, MH; Branch, JD. Creatine Supplementation and Exercise Performance:An Update. Journal of the American College of Nutrition. 17(3): 216–234, 1998.

 


Dra. Elen Aguiar Chaves possui Graduação em Educação Física (Licenciatura) - UFRJ; Mestrado e Doutorado em Ciências Biológicas - Fisiologia - UFRJ (Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho). Atualmente atua como pesquisadora visitante do Laboratório de Biologia Muscular na Escola de Educação Física e Desportos - UFRJ, estudando os efeitos deletérios do uso de altas doses do anabolizante decanoato de nandrolona na cardioproteção induzida pelo exercício e o papel da função mitocôndrial e das enzimas antioxidantes neste processo. Contato: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Publicidade