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Em sua tese de doutorado, o que foi possível observar no comportamento de homens e mulheres em relação ao dinheiro e à família?
Tivemos várias semelhanças e diferenças. Porém, para a nossa surpresa, as diferenças foram "menores" do que imaginávamos e estão mais relacionadas aos períodos de vida e estado civil, independentemente do sexo. Por exemplo: fiz aos participantes a seguinte pergunta: "O que fariam se ganhassem um milhão de reais?". Tanto homens quanto mulheres, na maioria, comprariam uma casa ou ajudariam a família, mostrando a centralidade da mesma na vida dos brasileiros. A semelhança apareceu também em relação à privacidade, pois tanto homens quanto mulheres preferem não falar tanto de dinheiro, especialmente os(as) casados(as) e divorciados(as).
E as diferenças?
As mulheres, mais do que os homens, associam gastar e presentear ao aprendizado familiar, o que pode ser entendido como parte da educação de gênero, que enfatiza mais a importância do cuidado com os outros para elas. Elas também gastam mais do que os homens com vestuário e estudos, independentemente do período de vida adulta em que se encontram. Em relação aos estudos, temos que as mulheres são mais exigidas profissionalmente, necessitando constantemente de aprimoramento para continuarem rompendo algumas barreiras sexistas, o que explica o maior investimento do que os homens.
Quanto a vestuário, isso se explica porque metade da amostra (50,3%) tinha filhos e marido, ou seja, as mulheres compram roupas para a família, o que é facilmente observado na prática. Ao mesmo tempo, são mais exigidas que os homens em termos de aparência física, o que faz com que gastem mais com roupas. Na parte de saúde, as mulheres divorciadas também gastam mais, indicando provável efeito da sobrecarga de responsabilidades e gastos destas em relação ao cuidado com a família.
Em relação a formas de pagamento, elas parcelam mais viagens, roupas e acessórios, eletrodomésticos e móveis, reforçando a ideia de que o dinheiro feminino é o dinheiro do bem comum, que pode ser usado em lazer e benefícios para todos, conforme já havia observado nas mulheres de meu mestrado sobre mulheres, família e carreira.
Em relação aos investimentos, as diferenças ficaram marcantes: os homens são mais arrojados, enquanto elas são mais conservadoras. Uma das explicações tem a ver novamente com a educação de gênero, bem como com a diferença salarial entre eles e elas, que recebem, em média, 25% abaixo do salário dos homens para cargos semelhantes.
Para os homens, a centralidade do dinheiro mostrou-se evidente nos vários períodos do ciclo vital, o que representa que os mesmos são culturalmente mais cobrados em termos de aquisição de bens materiais, diferentemente das mulheres, que se sentem inseguras em relação ao mesmo.