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Poderíamos pensar, então, que haveria uma dificuldade no exercício da liberdade de escolha, daí a instabilidade dos vínculos? É possível, mas nem sempre é isso. Ocorre que apesar de qualquer casal apreciar o seu direito de escolha, os nossos valores mais íntimos não se transformam na velocidade das transformações exteriores. Daí, por exemplo, a culpa de muitas mulheres porque deixou (ou achou que deixou) de cuidar tão bem da casa ou dos filhos porque estava dedicada a sua vida profissional, como se somente a ela coubesse realmente essa responsabilidade; daí às vezes a dificuldade do homem em compartilhar as responsabilidades pelo sustento do lar. Dessa forma também a ideia e a sensação de que o casamento estaria sufocando a individualidade pode ter a ver com esse contraste de valores e expectativas. Afinal, há apenas algumas décadas sequer se questionava individualidade dentro do casamento. Provavelmente soaria um paradoxo.
Assim, para se entender se a almejada individualidade teria, na verdade, a ver com essa possível luta interna entre velhos e novos valores, é preciso, antes de tudo, que os cônjuges tomem consciência dessas diferenças e das transformações da sociedade e possam identificar de que maneira elas estariam refletindo na sua própria vida conjugal, e trazer isso para aquele velho exercício do qual nenhum casal deve fugir: dialogar, sempre.
Dra. Carla Pontes Donnamaria é psicóloga mestre e doutoranda em Psicologia Clínica pela PUC-Campinas.
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