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Sabe-se que essa é uma doença em grande parte determinada pelo histórico familiar. Uma criança que tem um dos pais com transtorno bipolar apresenta uma probabilidade de 15% a 20% de manifestar o mesmo problema. Um estudo, realizado com gêmeos idênticos, mostrou ainda que, se um deles tem a doença, o risco de o outro também vir a ser uma vítima é de 80%. A mais recente descoberta sobre a origem do mal vem de um grupo de pesquisa do Hospital das Clínicas de Porto Alegre. Os cientistas andavam em busca de uma pista sobre a relação entre o transtorno bipolar e a molécula BDNF (sigla em inglês para fator neurotrófico derivado do cérebro), cuja atuação na memória já era bem conhecida. As evidências dessa ligação ficaram muito claras em seu estudo.

O trabalho mostrou que os bipolares têm menos BDNF no sangue do que as pessoas normais. Quanto menores os teores no sangue, maior a gravidade da doença. Como os níveis dessa molécula são ditados pela genética, a esperança é de que ela possa vir a ser um marcador da doença. O teste ainda é experimental, mas deverá se tornar rotina médica nos próximos anos.

Como todo distúrbio da mente humana, a bipolaridade também é determinada pela maneira como lidamos com as adversidades. Muitas vezes pode-se herdar o gene que leva a uma predisposição, mas, sem um evento estressante, o transtorno não se desenvolve. Em caso de estresse emocional ou abuso de drogas, os riscos ficam de quatro a cinco vezes maiores. O problema geralmente dá as caras no final da adolescência e no início da vida adulta, mas as crianças também são o alvo. Na infância, aliás, não raro ele ser confundido com distúrbio do déficit de atenção e hiperatividade. Crianças diagnosticadas assim, mas que não respondem ao tratamento, podem ter na realidade o transtorno bipolar. Descobrir a doença cedo e controlá-la o quanto antes ajuda seu portador a levar uma vida normal.

As oscilações do humor podem ser trágicas. Uma depressão prolongada, daquelas que chegam a durar meses ou mesmo anos, muitas vezes são o estopim de uma tentativa de suicídio. No outro extremo, o da mania, algumas semanas de crise são suficientes para pôr toda uma vida a perder. Relações são desfeitas e o dinheiro economizado por décadas, torrado em poucos dias. Não precisa ser assim. O.k., não há cura para o transtorno bipolar, mas, como outras doenças crônicas, trata-se de um mal controlável.

Em casos de bipolaridade, os remédios conhecidos como estabilizadores do humor são fundamentais para o tratamento do tipo 1 e para alguns pacientes do tipo 2, como os médicos chamam uma forma mais moderada do transtorno. Qualquer que seja o tipo, porém, o maior problema costuma ser a resistência do paciente a tomar os medicamentos. Um dos motivos está nos efeitos colaterais. O lítio, por exemplo, que ainda é uma das drogas mais usadas, pode provocar ganho de peso, tremores, aumento do apetite e retenção de líquido – um sufoco que, parece, as mulheres têm ainda mais dificuldade para enfrentar. Porém, os benefícios são muito maiores do que os efeitos colaterais. Mas é bom que fique claro: nenhum remédio, sozinho, opera milagres. Ele pode restaurar o equilíbrio químico dentro do cérebro, mas e as emoções?

Hoje, até os cartesianos mais ferrenhos já deixaram de considerar a mente e o corpo como estruturas absolutamente separadas. No caso do transtorno bipolar, diga-se, estão intimamente ligadas. E é aí que entra a psicoterapia, como peça fundamental do tratamento dos bipolares. Não se trata de uma doença mental apenas, mas um mal sistêmico que afeta o indivíduo como um todo. Esse paciente requer uma equipe multidisciplinar. Descobriu-se que os pacientes bipolares têm no cérebro uma quantidade menor de enzimas antioxidantes em comparação com o resto da população. Essas substâncias são essenciais para a manutenção da saúde ao evitar mutações genéticas que podem dar início ao câncer, por exemplo. Os bipolares têm maior incidência de morte por tumores, doenças cardiovasculares e diabetes. A busca é por métodos que permitam aos pacientes ficar livres não só das alterações do ânimo, mas de outros danos.

Doença do corpo e da mente, a bipolaridade também pode se enquadrar em outra categoria, a de doença social. Afinal de contas, muitas vezes não é o transtorno em si o que mais preocupa os pacientes, mas a reação das outras pessoas. Em outras palavras, é preconceito mesmo. E contra isso muitas vezes o melhor antídoto é fazer parte de um grupo. O convívio social faz parte da terapia porque o doente discute situações comuns a todos os portadores e um ajuda o outro.

Ora, se a vida é dupla e a doença é tripla, a conta só fecha porque as soluções são múltiplas. O sobe e desce das emoções. As fases eufóricas são chamadas de mania. As mais brandas, de hipomania. Podem durar de alguns dias até longos meses, assim como as fases da depressão.

 

 

evelyn_vinocur_site_copyEvelyn Vinocur é psicoterapeuta cognitivo-comportamental. Atua há mais de 30 anos na área de saúde mental de adulto e é especializada em saúde mental da infância e adolescência. www.evelynvinocur.com.br

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