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Outro ponto discutido na literatura e relatado pelos sujeitos deste estudo é o alívio dos efeitos colaterais das medicações psiquiátricas proporcionado pelo tabaco, o que motiva os esquizofrênicos a continuarem fumando. No entanto, o alívio dos efeitos colaterais ocorre devido à interferência do tabaco na ação dos medicamentos. Alguns estudos internacionais mostram que, devido a essa interferência, os portadores de transtorno mental tabagistas podem precisar de uma dose de antipsicótico 50 a 100% mais elevada para obter o mesmo efeito terapêutico de um paciente não tabagista.
Outra relação conhecida entre esquizofrenia e dependência nicotínica é que os esquizofrênicos obtêm maior quantidade de nicotina por cigarro fumado, pois o padrão de fumo deles é diferente. Pela urgência em sentir o alívio de alguns sintomas da esquizofrenia e dos efeitos colaterais das medicações, costumam tragar mais vezes e fumar os cigarros até o fim (filtro). Como no filtro do cigarro fica retida a maior quantidade de nicotina, o padrão de fumo diferente do esquizofrênico contribui para obterem mais nicotina por cigarro e consequentemente para agravar a dependência. Observe a cor dos dedos desses fumantes.
Além de aliviar alguns sintomas psiquiátricos e os efeitos colaterais das medicações, os esquizofrênicos fumam para conseguir interagir com as outras pessoas, para amenizar a solidão e esquecer os problemas. Nesta pesquisa ficou evidente que para o esquizofrênico a dependência do cigarro não é apenas fisiológica, mas também psicológica, na medida em que relatam alívio apenas por ter o maço de cigarros por perto (mesmo que não fumem naquele momento) e o reconhecem como um companheiro que traz sentido à vida. Para os pacientes psiquiátricos o tabagismo tem um sentido diferente do que tem para as demais pessoas, pois vem suprir dificuldades que são inerentes à vivência do transtorno mental.
Renata Marques é enfermeira graduada pela Faculdade de Medicina de Marília – Famema. Mestre em Ciências e doutoranda do Programa de Enfermagem Psiquiátrica da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (EERP/USP).
*Pesquisa apresentada na dissertação de mestrado “Dependência de tabaco na esquizofrenia, sua relação com indicadores clínicos e o sentido para o usuário”, defendida na EERP/USP em setembro de 2012. Orientada pela Profa. Dra. Antonia Regina Ferreira Furegato. Financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Edital MCT/CNPQ no 70/2009 (Processo no 145781/2010-0).
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