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A pesquisadora explica que o primeiro objetivo da pesquisa foi identificar como o tabagismo ocorre nos portadores de transtorno mental, internados em hospital geral. Para isso, foi investigada a frequência de tabagistas, o grau de dependência nicotínica e sua associação com algumas variáveis clínicas dessa população. O segundo objetivo foi investigar o sentido que o tabagismo tem para esses sujeitos.

Foram realizadas entrevistas com 270 portadores de transtorno mental internados na unidade psiquiátrica, os quais responderam a questões de identificação sociodemográfica, identificação clínica e sobre atividades e hábitos da vida diária. Além dessa identificação inicial, os 96 sujeitos que se declararam tabagistas responderam a um teste de dependência nicotínica e a um questionário com 28 questões que investigavam o sentido do cigarro em sua vida.

Além da frequência de tabagistas superior à da população geral, essa pesquisa mostrou que a maioria desses sujeitos (53,2%) foi classificada com grau de dependência nicotínica elevado ou muito elevado. "Foi encontrada maior dependência nicotínica entre os sujeitos com idade mais elevada, com diagnóstico de transtornos esquizofrênicos e com presença de comorbidades somáticas", explica ela.

A primeira relação conhecida entre dependência do tabaco e esquizofrenia é que a nicotina ameniza alguns sintomas do transtorno, como lentificação psicomotora, prejuízo da atenção/concentração e falta de prazer nas atividades diárias (anedonia). No entanto, os próprios sujeitos da pesquisa reconheceram que o efeito de automedicação é temporário e justificaram a partir disso recorrer de forma mais intensa ao tabaco (maior quantidade de cigarros e frequência do fumo) em busca do efeito de automedicação. "A busca intensa por cigarros contribui para o agravo da dependência nicotínica e para maior dificuldade para deixar de fumar", explica Renata.

Embora a nicotina alivie temporariamente alguns sintomas da esquizofrenia, não se pode ignorar que ela contribui para o aumento dos delírios e das alucinações. Isso ajuda a entender por que os esquizofrênicos que fazem uso de tabaco são os pacientes mais graves, com maior ocorrência de surtos e maior necessidade de internações. À maior ocorrência de surtos e de internações podemos acrescentar o sofrimento que essa situação representa para os esquizofrênicos.

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