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Em quais circunstâncias ela ocorre e por quê?

A causa mais comum é o acidente vascular cerebral, tanto isquêmico quanto o hemorrágico. Contudo, a lesão precisa acontecer em uma área do cérebro chamada ponte, que fica no tronco encefálico. Na porção anterior da ponte, existem diversas estruturas (núcleos de nervos cranianos e fibras nervosas) que são responsáveis pela transmissão de impulsos elétricos que resultarão na realização de movimentos. Já na porção posterior da ponte, existem estruturas que são responsáveis pela estimulação global do cérebro para manter o nível de consciência. Dessa forma, para que uma lesão leve à síndrome de locked-in, o paciente deve ter lesada a porção anterior da ponte, preservando a parte posterior.

 

Existe algum jeito de um paciente com essa síndrome se comunicar com outras pessoas?

O paciente pode recuperar a capacidade de piscar, mas o movimento que é mais preservado é o da movimentação vertical dos olhos. Dessa forma, estratégias de comunicação alternativa podem ser estabelecidas. Um caso clássico de comunicação em síndrome de locked-in ocorreu com um editor de uma revista de moda francesa. Após ter um acidente vascular cerebral e ficar com a síndrome de locked-in, ele escreveu um livro, ditando letra por letra com o piscamento. Posteriormente foi feito um filme com a história do livro (O escafandro e a borboleta).

 

A pessoa pode sair deste estado? Quando isso ocorre?

Numa fase muito inicial da lesão cerebral é possível considerar uma recuperação, sobretudo se algumas medidas de tratamento forem tomadas. Por exemplo, um paciente que se apresente agudamente com a síndrome de locked-in decorrente de um acidente vascular cerebral na ponte pode, nas primeiras poucas horas de quadro clínico, ser submetido a procedimentos que visam a desobstruir a artéria que está ocluída. O restabelecimento do fluxo sanguíneo cerebral em um tempo rápido o suficiente para que os neurônios não tenham morrido pode reverter o quadro. É por causa desse tratamento que pacientes com suspeita de acidente vascular devem ser imediatamente encaminhados para serviços de emergência.

Contudo, depois de certo tempo com a lesão, o prognóstico não costuma ser favorável para recuperação completa e, sem cuidados adequados, o paciente acaba por morrer de complicações clínicas de sua condição, tais como infecções ou embolia de pulmão.

 

 

Dr. Marcelo Calderaro é formado pela Universidade de São Paulo e Neurologista especializado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. É também membro titular da Academia Brasileira de Neurologia e integra o corpo clínico dos Hospitais Samaritano, Oswaldo Cruz e Albert Einstein. CRM 84813.

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