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É verdade que a quantidade de iodo adicionada ao sal no Brasil, em relação a outros países, é muito maior?
A quantidade de iodo que deve ser adicionada no sal de cozinha de uma população deve depender da análise da nutrição de iodo daquela determinada população. Então, a partir de vários indicadores, como volume tireoidiano (procurando a porcentagem de bócio endêmico e suas consequências), excreção urinária de iodo (que mede, em última análise, o quanto de iodo estamos ingerindo – já que mais de 90% do iodo ingerido na dieta é excretado intacto na urina), encontrados em determinado país ou população, é elaborado um programa de iodação do sal.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem como meta a erradicação das doenças por deficiência de iodo no mundo e, em suas várias análises e seguimentos, declarou e sugeriu o valor entre 20 e 40 miligramas de iodo por quilo de sal. Nessa iodação, considerou um consumo adequado de 5 g de sal ao dia por pessoa. E esse consumo de sal (e consequentemente do iodo) é elevado em nossa população, pois aparentemente consumimos muito mais do que os 5 g sugeridos pela OMS. Pela estimativa do governo, o brasileiro consome, em média, 8,2 gramas de sal diariamente, e há estudos que constam até 12 g ao dia.
O que o excesso de iodo pode causar no organismo?
Quando a tireoide é submetida à exposição de grande quantidade de iodo, muito provavelmente por excesso na ingestão, a glândula repleta desse nutriente também "reage", produzindo:
- Hipertiroidismo: especialmente na população de idosos, gerando casos de arritmias cardíacas e maior incidência de eventos tromboembólicos, provavelmente nesse tipo de população que já era mais predisposta (por ter bócio) ao desenvolvimento dessas comorbidades;
- Tiroidite autoimune: trabalhos apresentam maior incidência de autoanticorpos antitireoide e aumento dos níveis de TSH (chegando até a casos de hipotiroidismo), principalmente em populações que eram carentes e passaram a ser repletas ou mais que suficientes em iodo.
Ainda se desconhece, por completo, o mecanismo de ação do excesso de iodo levando às alterações funcionais da glândula, mas uma das hipóteses é de que o iodo seja um estímulo antigênico (ou seja, ele por si só – em excesso e ligando-se à tireoglobulina, proteína específica da tireoide – já seja um estímulo para que haja uma produção aumentada dos autoanticorpos) nas pessoas que tenham a predisposição ao desenvolvimento dessas doenças.
A Anvisa aprovou a redução da quantidade de iodo no sal de cozinha no último dia 16. Como você vê essa medida?
Os trabalhos publicados com a população do Brasil têm mostrado que há possibilidade de nosso país ser uma região suficiente ou mesmo mais que suficiente em iodo. Essas conclusões aparecem desde trabalhos de 2000. O que seria ideal é o monitoramento contínuo da população através dos inquéritos para verificar se a correção (diminuição) da quantidade de iodo no sal poderá reverter, ao longo dos anos, a incidência das doenças relacionadas ao excesso de iodo e, ao mesmo tempo, não aumentar aquelas relacionadas à carência desse micronutriente. Além disso, creio que, preventivamente, deveríamos incentivar campanhas de menor consumo do sal (tanto pelo excesso de sódio, como de iodo).
Dra. Glaucia Duarte é médica formada pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Residência em Endocrinologia e Metabologia pela UNICAMP. Doutorada em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo – USP. Pós-doutoranda em Nutrição pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Sociedade Latino-Americana de Tireoide (LATS) e International Council for the Control of Iodine Deficiency Disorders (ICCIDD).
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