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Essa política de internação que está sendo implantada em São Paulo e pode ir para outras capitais, como Salvador, é a melhor forma de lidar com esse problema de saúde pública? Não seria mais sensato pensar em outras alternativas a longo prazo?
No caso da dependência de drogas, como o crack, e o estágio da doença, não se pode esperar muito. No contexto de compreensão do mecanismo da doença, um dos aspectos mais importantes é o dos pacientes protelarem suas decisões em função do efeito das drogas no seu cérebro, gerando uma deterioração rápida e progressiva com complicações que podem tornar mais difícil o processo de recuperação. Não podemos ser coniventes com os pacientes em relação a esse aspecto de sua doença.
No caso do crack, que talvez hoje seja uma das drogas de mais difícil tratamento, por que ele tem um poder tão devastador? Por que é tão difícil tratá-lo?
O crack é a cocaína fumada e age no cérebro após cinco segundos; o efeito da droga também é rápido, durando em torno de cinco minutos. Toda droga que tem estas características de ação e efeito rápido tem maior potencial de causar dependência mais rápida e grave. Assim, ao usar a droga, o cérebro da pessoa é alterado e ela tem a necessidade de usar a droga em doses cada vez maiores e dificuldade em interromper o uso. Juntamente com este processo biológico, vai ocorrendo uma deterioração do comportamento do indivíduo no plano individual (psicológico), no relacionamento com as pessoas e o mundo, gerando abandono escolar, perda de emprego, dificuldades financeiras, envolvimento com o narcotráfico e o crime. Vários fatores são dificultadores para o tratamento de dependentes de crack, dentre eles os relacionados ao poder da droga de causar dependência, presença de outras doenças mentais como depressão, psicose, aceitação cultural e crenças individuais a respeito do consumo de drogas, disponibilidade e, principalmente, a ausência ou fragilidade de uma rede multiprofissional especializada e articulada para o tratamento e reinserção social do dependente de crack e outras drogas.
Valdir Ribeiro Campos, graduado em Medicina pela Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de Vitória - ES em 1992 - CRMMG: 25.974. Residência médica em psiquiatria pelo Instituto de Previdência dos Servidores Públicos do Estado de Minas Gerais – IPSEMG. Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP. Especialista em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Fundou e coordenou o serviço de dependência química do IPSEMG no período de 2002 a 2008. Foi membro da Comissão Municipal de Políticas para Álcool e Drogas – COMAD e colaborou tecnicamente no período de 2007 a 2010 para a criação do primeiro CERSAM-Álcool e Drogas do município de Belo Horizonte - MG. Doutor pelo Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Fundou em 2010 o ambulatório de dependência química da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG – onde é preceptor de residência médica em psiquiatria. Membro da comissão de controle do tabagismo, alcoolismo e outras drogas da Associação Médica de Minas Gerais – Contad-AMMG.
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