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Em janeiro, começou em São Paulo o programa estadual de internação compulsória de dependentes químicos, especialmente os viciados em crack. Essa medida pode ser de alguma forma eficaz para o tratamento desses dependentes?

O tratamento do dependente químico de um modo geral necessita de uma rede articulada de atendimento que vai desde o tratamento em nível primário de atendimento em saúde (Unidades Comunitárias de Álcool e Drogas, Estratégia de Saúde da Família – ESF, ambulatório especializado), em centros de atenção psicossocial, moradia assistida, até a internação hospitalar ou em clínicas de recuperação. Nem todos os dependentes de crack necessitam ser internados. A internação é apenas uma fase do tratamento que isoladamente produz resultados de curto prazo. Entretanto, em casos em que o indivíduo já perdeu a capacidade de decidir por si e/ou oferece risco para si e outros, é necessária a internação compulsória. O mais importante é que após a internação os pacientes tenham continuidade do tratamento dentro de uma rede multiprofissional especializada e articulada em tratar dependente químico (em particular dependentes de crack), algo que ainda está distante da realidade de muitas cidades do país e da política nacional para as drogas.

 

A medida não pode ser vista como uma forma de "higienização social" da região da Cracolândia, onde fica localizada grande parte desses dependentes na cidade de São Paulo?

A área da dependência química é complexa e permeada por mitos, estigmas, preconceitos e ideologias. Assim como em São Paulo, inúmeras "cracrolândias" estão espalhadas pelo país aguardando alguma iniciativa ou política de assistência aos dependentes. É necessário que usuários, familiares, profissionais e planejadores possam se articular em busca da melhor assistência e tratamento. Estamos diante de um desafio em saúde pública que necessita de técnicos qualificados e de uma rede multiprofissional especializada e articulada para o tratamento e reinserção social dessas pessoas.

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