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 E quanto às crianças maiores? Como explicar a elas sobre o que estão fazendo na UTI sem traumatizá-las? Como lidar com procedimentos dolorosos?

 Tanto as crianças maiores quanto os bebês carecem de explicações sinceras a respeito do que estão fazendo na UTI. Quando o quadro é mais grave e/ou crônico, deve haver muita sensibilidade e, de preferência, a orientação de um psicólogo a respeito de como deve ser dito, de acordo com cada caso. Para tanto, o psicólogo também precisa ter conquistado já a confiança da mãe ou acompanhante, sendo muito empático, “colocando-se no lugar” de quem estará ouvindo o que precisa ser contado, sempre se considerando os limites para isso. Por exemplo, ainda que a criança tenha sido desenganada, não temos o direito, como psicólogos e nem mesmo como seres humanos, de retirar a esperança nem dos pais e nem do pequeno paciente. O desfecho de cada caso será único e uma verdadeira incógnita.

Foram inúmeras as vezes em que presenciei, em todos esses anos de experiência, surpresas maravilhosas que contradisseram totalmente o que as estatísticas previam. Portanto, há de se ter muito cuidado em não “avançar o sinal”, ao comunicar a criança sobre o que está se passando. Na verdade, cada dia deve ser vivido na esperança de que o dia seguinte será melhor, independentemente do diagnóstico e do prognóstico obtido. Afinal, a vida e seus tropeços ou avanços são mistérios a serem desvendados passo a passo.

Quanto aos procedimentos dolorosos, a sinceridade a respeito de como eles serão é de primordial relevância. De nada adianta dizer que não doerá, se vai doer. Pelo contrário: a criança sente-se traída quando não se lhe diz a verdade. Podemos amenizar o medo e a ansiedade, contando-lhe somente quando estiver exatamente na hora em que se dará o procedimento, sendo isso possível. Ainda mais, podemos lembrar ou informar à criança que é necessário para seu bem e que a dor ou o desconforto passará.

Mesmo que a criança esteja em coma, é preciso conversar com ela! Ela ouvirá; sentirá a presença da mãe, daqueles que a amam! Pesquisas já comprovaram este fato.

 

No caso das crianças maiores, como criar uma atmosfera agradável e com jeitinho de casa, para que a criança possa abstrair um pouco que está no hospital?

 Esta pergunta também apresenta fundamento indiscutível, no sentido de se buscar uma compreensão de fatores que possam amenizar a angústia e os medos decorrentes desse estranho e, normalmente, aversivo lugar.

Todavia, há grandes limites para que se consiga criar uma atmosfera agradável e com jeitinho de casa, infelizmente. O que se pode fazer é levar joguinhos, atividades das quais a criança goste e possa realizar na caminha, televisão, brinquedos que sejam permitidos pela instituição (devido à possibilidade de infecções, alguns materiais não podem entrar na UTI).

A presença da mãe ou outra pessoa em quem a criança confie é importantíssima, sendo que a mãe deve buscar ajuda profissional nessa condição de aflições e receios, a fim de que possa estar o mais tranquila possível para conseguir transmitir mensagens “de coração para coração” de esperança, força para prosseguir em uma luta que terminará.

 

De que forma as mães com filhos na UTI podem ajudar umas às outras?

 

A sala de espera da UTI é um lugar onde pode haver trocas de experiências e sentimentos muito salutares entre as mães. Ali, constroem-se amizades, muitas delas para a vida inteira, edificando cada membro deste grupo que se forma naturalmente. Ainda que haja uma diversidade enorme de casos, as mães que ali se reúnem sabem, em alguma medida, o que as demais estão passando.

Falo, aqui, da força do grupo. Nele, as angústias, os medos, as fantasias, as esperanças são todos sentimentos compartilhados. A fé é compartilhada e a vontade de que tudo dê certo uns para os outros parece prevalecer.

 

 

Dra. Letícia Kancelkis Porta (CRP: 06/58700-6) é psicóloga mestre e doutora em Psicologia Clínica. Durante seu percurso como mãe de UTI durante cinco anos, escreveu um livro, no qual conta suas experiências com o filho Filipe. “O Sol Brilhará Amanhã: Anuário de uma mãe de UTI sustentada por Deus” começou a ser escrito logo no início de todas essas experiências. O livro está disponível pelo site: http://www.ldeleditora.com.br/index.php/o-sol-brilhara-amanh.html e em algumas livrarias de Campinas-SP. Pode-se adquiri-lo também, além de se poder falar diretamente com a psicóloga, fazendo perguntas e trocando experiências pelo endereço eletrônico: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

 

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